segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

LIX

Pobres poetas a quem a vida e a morte
perseguiram com a mesma tenacidade sombria
e logo são cobertos por impassível pompa,
e entregues ao rito e ao dente funerário.

Eles - obscuros como pedrinhas - agora
detrás dos cavalos arrogantes, estendidos
vão, governados ao fim pelos intrusos,
entre os acompanhantes, a dormir sem silêncio.

Antes e já seguros de que já está morto o morto
fazem das exéquias um festim miserável
com pavões, porcos e outros oradores.

Espreitaram sua morte e então a ofenderam:
só porque sua boca está fechada
e já não pode contestar seu canto.

Pablo Neruda in Cem Sonetos de Amor

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