domingo, 18 de novembro de 2012

poema vinil

Fonte: somentecoisaslegais.com.br

Tô na fossa!
Deitado na velha rede
Ouvindo Paulo Diniz
“Como vou deixar você
Se eu te amo?”
Bebendo vinho seco
Beliscando aquele jantar
De ontem
Pensando naquela
Que um dia me disse
“Je t'aime mon amour”
Como que desejando aquele poema
Cujo papel
joguei fora
Antes mesmo de imaginar
O primeiro verso

Ora!
De que vale um verso não achado
Num papel rasgado?
Ou o resto de uma janta
Se não há fome?
Ou ainda o vinho seco
Se não há ela
nem a embriaguez da vertigem?
Resta, então
a velha vitrola
e ela
Mas ela não veio
“José,
e agora?”

henrique magalhães
todos os direitos reservados

domingo, 4 de novembro de 2012

Feira Noise Festival 2012, 03/10/2012


Estive presente no encerramento do Feira Noise Festival 2012, no dia 03 de outubro. A proposta do evento é divulgar a cultura alternativa da cidade de Feira de Santana e região, com um enfoque especial para a música, embora outras formas de expressão artística também tenham sido contempladas, como a dança e as artes plásticas.
Sempre acreditei que exista na Bahia muito mais coisas interessantes a se contemplar do que o que a mídia insiste em nos "empurrar goela abaixo". O que falta é divulgação, e se esta não é feita pelos veículos midiáticos convencionais, resta então a via alternativa. Daí a importância de eventos que constituam portas para que gente talentosa, porém "solenemente" desconhecida se mostrem, bem como sua arte.
Bem, no dia em que estive presente, predominou o rock 'n roll. Dos grupos que lá se apresentaram, na arena do Centro de Cultura Amélio Amorim, apesar da chuva forte que caiu e ameaçou "desandar" tudo, destaco três que me chamaram especialmente a atenção, dois daqui de Feira de Santana e um da bela cidade de Paulo Afonso. Juntamente com a minhas impressões pessoais do som dos caras, posto vídeos contendo canções deles, não de gravações do referido festival, uma vez que nenhuma postagem referente ainda foi efetuada.


1. Igor Gnomo Group

Este grupo, originário da cidade de Paulo Afonso, apresenta um som amalgamado no fusion ou jazz-rock, com influências do blues e da música brasileira de raíz. Totalmente instrumental, a guitarra "falante" de Igor Gnomo, juntamente com uma banda afinadíssima, nos brindou com canções autorais sensacionais, além de versões inusitadíssimas de Jackson do Pandeiro (Canto da Ema) e de Milton Nascimento (Vera Cruz). Valeu muito a pena conhecer o som desses caras!

Igor Gnomo - Giselle (album "Nordestino")


2. Tangerina Jones

O som desse jovem e talentoso grupo daqui de Feira de Santana, nitidamente bebe da fonte do rock de bandas setentistas como Small Faces e Rolling Stones. Eles apresentaram um trabalho totalmente autoral, com canções muito bem executadas instrumentalmente e com uma performance competente do vocalista Hebert Almeida. Dentre os destaques, está a canção Crapton (vide postagem abaixo), uma das últimas a serem executadas no show.

Tangerina Jones - Crapton



3. Clube de Patifes

Grupo pioneiro na cena blues de Feira de Santana, nesse show, esses caras apresentaram um repertório totalmente repaginado numa roupagem acústica, com três violões e a percussão de Gabriel Ferreira, e surpreenderam. Além de canções autorais, como Mulher de Repente e Vela, constaram versões bem inusitadas de Assum Preto (Luíz Gonzaga/ Humberto Teixeira) e Eu Só Quero Um Xodó (Dominguinhos/ Anastácia), com uma roupagem blues, obviamente. Grande show!

Clube de Patifes - Mulher de Repente

henrique magalhães
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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O filme que me fez chorar!!


"ao sertão pernambucano
de onde nunca saí"

Sou sertanejo, de "cabo a rabo". Vez ou outra bate aquele boa e velha nostalgia. Me dá vontade de tomar aquele "rabo de galo" (cachaça, para os mais "íntimos), vontade de chorar ao rever fotos de um mundo distante, mas ainda tão próximo de mim (o sertão) e de ouvir o Mestre Lua, o eterno rei Luíz Gonzaga.
O filme Gonzaga - De Pai para Filho é lindo em tudo. O roteiro, que conta a história de dois gênios, o pai e o filho, o Gonzaga e o Gonzaga Jr., a partir de um encontro conflituoso, à princípio. A partir desse encontro, começam a se desenrolar a história do pai e, no decorrer da trama, a do filho. O pai, um retirante nordestino que foi aventurar a sorte no Rio de janeiro depois de pedir exoneração do exército, em Fortaleza. Homem sertanejo de criação rude, que acreditava que era o trabalho que fazia o cabra ser homem. O filho, um carioca do subúrbio, filho do "Rei do Baião" com uma dançarina de Cabaret, uma "mulher da vida". Ambos crescem sem estabelecerem uma relação típica de pai para filho. O pai, pondo o trabalho acima de tudo e relegando o filho a um casal de amigos que o criaram como um filho, defato. O filho, crescendo com a angústia de ter um pai ausente, embora provedor.
Ambos crescem nesse cenário de conflito. Nem mesmo o sucesso de ambos, inclusive o de Gonzaguinha, que resolve se aventurar na música após sair de casa depois de mais uma das inúmeras brigas com o pai, e se torna um dos maiores compositores populares do Brasil em sua época (e até nos dias atuais), consegue reaproximá-los. Até que um dia, encorajado por Rosinha, esposa de seu pai, na época, o filho resolve reencontrar o pai, que havia voltado ao seu sertão, e passava por uma situação de restrição econômica. Entre conflitos, desabafos e conversas, ambos selam o elo pai-filho com um abraço apertado precedido de troca de confidências e perdões. Chorei, e creio que muitos "machões" presentes naquela sessão, se não choraram, tiveram vontade.
Sertanejo é sertanejo sempre mesmo, não tem jeito! Saí do sertão há algum tempo, porém este jamais saiu ou sairá de mim. Onde eu vou, carrego ele comigo, e o bom e velho Mestre Lua, minha trilha sonora. Sempre!

henrique magalhães
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

refeição


arte: autor desconhecido

comer
poesia
comendo
poetisa

comer
poetisa
comendo
poesia

comer
comendo
poetisa
poesia

henrique magalhães
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God Bye Emanuelle, por Xico Sá

Bela homenagem do maior cronista "cabra safado" do país, Xico Sá, a maior diva do cinema pornô mundial de todos os tempos: a holandesa Sylvia Kristel. Ela, responsável pela "educação" sexual de milhares de "niños", como este aqui vos escreve, nos deixou aos 60 anos de idade, nesse mês de outubro. A eterna "Emanuelle" vive e viverá eternamente no coração nostálgico daqueles que vararam muitas noites e madrugadas do saudoso "Cine Privê", na Band, aproveitando a fuga e o sono dos pais para exercitarem sua famosa "justiça" (com as próprias mãos, é claro! kkkk). Salve, diva!! Deus a bendiga!

 

Quando o amigo Eduardo Beu me deu a notícia, não tive dúvida, peguei um barquinho no rio Paraguaçu, em Cachoeira, na Bahia, onde me encontrava na Flica, bela festa literária, e sai perdido, como aqueles caras que perderam Deus e passaram a acreditar em Jim Jarmusch.
Havia feito, uma semana antes, um tributo a ela, no Wonka, em Curitiba, recriando a letra de “God bye Emmanuelle”, de Serge Gainsbourg, no projeto “Trovadores do Miocárdio”.
A morte da atriz holandesa Sylva Kristel, a Emmanuelle, aos 60 anos, me deixou à deriva. Por isso demorei tanto para escrever sobre.
Essa mulher foi tudo. Essa mulher levou a linha do destino da minha mão direita de tantos gozos do vício solitário.
Essa mulher me matou de gozo, essa mulher não morre nunca no meu pobre juízo.
Se um homem que é homem tem mais de 40 anos… esse homem se derreteu, alguma vez na vida por essa respeitável holandesa.
Que me desculpe, amigo, estou emocionado, embora tenha buscado na fuga do Recôncavo baiano o esquecimento dessa morte.
Mesmo lesado, perdido, não teve jeito. Só pensei em ti, Emmanuelle, principalmente você amando um homem em pleno voo lindo e noturno.
Eu te amo, Emmanuelle, que a vida lhe seja leve.

Xico Sá
http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2012/10/19/god-bye-emmanuelle/

domingo, 28 de outubro de 2012

Para Lari e Bia


Ela se jogou na lama
com o seu sexo
nu

e o seu prazer era
úmido
lânguido e aquoso

sua vertigem febril
inundava
aquela aurora

e seu orgasmo
era fluido
e deslizante

seu corpo rosnava
no cio
como animal

e seu grito
atravessava
plantas e rios

à sombra úmida
de uma sangria
inquietude.


Henrique Magalhães & Weslley Almeida
Todos os direitos reservados

domingo, 22 de julho de 2012

um pequeno aperitivo de romero britto

Nessa nova postagem referente à série "um pequeno aperitivo de...", minha homenagem vai para o artista plástico brasileiro mais conhecido e premiado do mundo na atualidade, o grande e ilustre pernambucano Romero Britto.
Representante do movimento intitulado pop art, o artista "usa e abusa" de cores vivas e formas geométricas, formando mosaicos em torno de temas cotidianos do dia a dia, como casais de namorados, animais e jardins. Uma espécie de "cubismo moderno".
A todas e a todos, um bom deleite!











Romero Britto (1963) é um famoso pintor e artista plástico brasileiro. Radicado em Miami, nos EUA, ficou conhecido pelo seu estilo alegre e colorido, por apresentar uma arte pop, despojada da estética clássica e tradicional. É considerado um dos artistas mais prestigiados pelas celebridades americanas e o pintor brasileiro mais bem sucedido fora do Brasil.
O artista já começou seu interesse pelas artes na infância, quando usava sucatas e papelões de jornal para exercitar a sua criatividade. Eram tempos de pobreza e muitas limitações na cidade de Recife. Romero Britto também começou nessa época a usar a grafitagem, o que foi de grande influência em seu trabalho.
Iniciou o curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco, mas depois viajou aos Estados Unidos e lá estabeleceu-se como artista de sucesso até hoje.
É muito influenciado pela estética cubista, e tem Picasso como um grande mestre. Seu estilo vibrante e alegre, com cores fortes e impactantes fez com que sua obra tivesse forte ligação com a publicidade. O artista já mostrou o seu talento pintando para uma campanha publicitária da marca de vodca sueca Absolut, para as latas de refrigerante da Pepsi Cola, e redesenhou personagens de Walt Disney.
Muitas celebridades admiram a obra de Romero Britto, como Arnold Schwarzenegger, Madonna, os ex-presidentes Bill Clinton, Fernando Henrique Cardoso, Carlos Menem, respectivamente dos EUA, Brasil e Argentina. Suas coleções estão presentes em diversas galerias do mundo inteiro.
Dentre outras realizações, merece destaque a criação dos selos postais que levam o nome de Esportes para a paz, sobre as olimpíadas de Beijing. Outra criação importante é uma pirâmide que esteve instalada no Hide Park, em Londres, com uma altura similar a de um prédio de quatro andares. A obra deverá ser encaminhada para o museu da criança, na cidade do Cairo, no Egito.
Suas pinturas estão presentes em importantes aeroportos do mundo inteiro, como os de Washington DC, Nova York e Miami. Vale citar outros locais onde se pode ver e apreciar as suas obras: Montreux Jazz Raffles le Montreux Palace Hotel e Azul Basel Children’s Hospital, ambos na Suíça, e o Sheba Sheba Medical Center, Tel Aviv, em Israel.
Hoje, o pintor vive em Miami, cidade na qual possui grande identificação e é casado.

fonte: http://www.e-biografias.net/romero_britto/

quinta-feira, 19 de julho de 2012

álbuns inesquecíveis - rock (internacional)

Dando continuidade à série composta por álbuns que marcaram minha vida e ainda hoje me enchem de uma nostalgia juvenil cada vez que eu os ouço, posto aqui comentários sobre mais sete álbuns marcantes de rock, dessa vez internacional. Não dá para lembrar de todos, né!
PS: Sete não é um número esotérico nem, tampouco, cabalístico para mim, é apenas um número que eu simpatizo. Aliás, sempre simpatizei mais com números ímpares. Sei lá, talvez seja alguma coisa meio cabalística mesmo. Ah... vamos aos álbuns!!


1 Guns N’ Roses – Appetite For Destruction


Foi um dos primeiros álbuns de rock internacional que eu realmente parei para ouvir. Já havia ouvido vários outros, mas não como este.
A banda, em seu primeiro trabalho de estúdio nos brinda com um hard rock suingado, irreverente, pesado e melódico na medida certa. Foi, sem dúvida, em minha modéstia opinião, o álbum mais equilibrado que eles lançaram ao longo de sua carreira. E a guitarra de Slash constitui um show a parte.
O disco abre com o clássico Welcome to the Jungle, e vai seguindo com uma série de clássicos até hoje obrigatórios em seu set list como Paradise City, It’s so Easy e Sweet Child O’Mine.


2 U2 – Under a Blood Red Sky


Este foi o primeiro álbum ao vivo gravado por este quarteto irlandês (na época, 1983, ele foi lançado como um mini-LP), uma das bandas de rock mais bem-sucedidas da história. Com uma carreira sólida e concisa ao longo dos anos, com a mesma formação desde os primórdios o grupo passou por altos e baixos no decorrer de sua história, porém vem se mantendo até os dias atuais sem deixar a “peteca cair”, com turnês milionárias, os discursos messiânicos do vocalista Bono Vox e um set list mesclado com clássicos históricos e mais recentes.
Nesse álbum ao vivo gravado em Dublin, capital irlandesa, em 1983, o grupo, ainda jovem, nos brinda com oito faixas até hoje clássicas, em versões arrebatadoras, como Gloria, que abre o disco, The Eletric Co., I Will Follow, New Year’s Day e o hino Sunday Bloody Sunday.   


3 Pearl Jam – Ten


 A cena grunge, surgida em Seattle (EUA, no início da década de 1990, teve como filho mais famoso a banda Nirvana, liderada pelo tresloucado Kurt Cobain. Esta, porém, está longe de ser a banda mais talentosa, musicalmente falando, produzida pelo movimento. Aliás, para quem já assistiu alguma performance deles em um show, percebe-se que eles ficaram muito mais famosos pela “atitude” do que pela música, onde eles nitidamente não tinham o menor pudor em desafinarem ou errarem notas, por exemplo.
Destaca-se, porém, bandas cujo talento era eminente, tanto em estúdio como ao vivo, a exemplo do Alice in Chains e do Pearl Jam. Enfoquemos na última.
Formada pelo ótimo vocalista Eddie Vedder e por mais quatro músicos excepcionalmente talentosos (os guitarristas Stone Gossard e Mike McCready, o baixista Jeff Ament e o baterista Matt Cameron), o Pearl Jam começou bebendo nitidamente na fonte de bandas setentistas inglesas, como o The Faces e o Rolling Stones, como se percebe no seu álbum de estréia, o Ten, lançado em 1991. Nesse disco, recheado de clássicos até hoje indispensáveis em qualquer apresentação da banda, há pancadas como Once, Why Go, Jeremy e a maravilhosa Even Flow, e também baladas como Release, Alive e a belíssima Black.


4 Metallica – Metallica (“The Black Album”)


Na cena thrash metal mundial, nenhuma outra banda se destacou como o Metallica. Considerado por muitos críticos como os pioneiros do estilo, uma espécie de heavy metal com um som mais “sujo” e mais agressivo, o grupo lançou álbuns clássicos ao longo de sua carreira de 30 anos. Entre 1983 e 1991, gravaram cinco álbuns clássicos: Kill’n Wall (1983), Ride the Lighting (1984), Master of Puppets (1986), …and Justice for All (1988) e Metallica (1991). Esta constitui a fase áurea de sua longa história.
No último álbum citado acima, conhecido popularmente também como “The Black Album” devido a capa em tom negro (provavelmente uma homenagem póstuma ao falecido ex-baixista Cliff Burton), o grupo apresenta um som mais cadenciado em relação ao álbuns anteriores, embora ainda pesado. Destaque para as belas The Unforggiven e Nothing Else Matters, e as clássicas Sad But True, Enter Sandman e Wherever I May Roam.      


5 Radiohead – OK Computer


Eleito por diversas revistas especializadas em rock n’roll e música em geral como um dos melhores álbuns de rock da década de 1990, a exemplo da conceituada Billboard, esse álbum consagra de vez o Radiohead, um dos pioneiros do movimento BritishPop (ou simplesmente, Pop Britânico) dos anos 1990, como uma das bandas mais criativas ainda em atividade da música mundial. Sim, Thom Yorke é um poeta genial cercado por músicos talentosos, como o guitarrista Ed O’Brien, que compõem a cozinha perfeita para o menu de canções a serem servidas.
O Ok Computer constitui também o álbum mais equilibrado do Radiohead, onde este combina perfeitamente a sonoridade pop de seus álbuns anteriores, o Pablo Honey (1992) e o The Bends (1995), com o experimentalismo que viriam a ser mais enfocados em seus trabalhos posteriores, como o Kid A (2000) e o Amnesiac (2001). Tematicamente, o álbum aborda a tecnologia, a política, a alienação e a hipocrisia social. Destaque para No Surprises, Karma Police, Let Down e a espetacular Paranoid Android.


6 Iron Maiden – Powerslave


Quando eu comecei a ouvir rock pesado, comecei pelo thrash metal, uma variação mais agressiva do heavy metal, por bandas como Megadeth, Metallica e Slayer. Ouvir o Iron Maiden pela primeira vez, através de um grande amigo que eu considero um irmão chamado Manoel, foi antes de tudo a descoberta de que era possível fazer um som pesado e ao mesmo tempo melódico. Virei fã quase que instantâneo da banda.
Maior representante do movimento conhecido como New Wave of the British Heavy Metal (NWBHM), surgido no início dos anos 1980, o Iron Maiden começou como um quinteto centralizado nas personalidades do guitarrista Dave Murray e do baixista Steve Harris, únicos integrantes fixos do grupo até então. As temáticas de suas letras alternam entre histórias de ficção científica, misticismo e até eventos históricos.
No Powerslave, quinto álbum de estúdio do grupo (lançado em 1984), o time é composto pelos vocais de Bruce Dickinson, a guitarra de Adrian Smith e a batera de Nicko McBrain, além dos já citados membros, constituindo a formação mais clássica do grupo. Clássicos como Aces High e 2 Minutes to Midnight são até hoje obrigatórios em qualquer turnê do grupo. Na minha modéstia opinião, é o melhor álbum já produzido pelo grupo, juntamente com o Piece of Mind, gravado um ano antes (1983). Ambos não contêm uma única faixa ruim, ou sequer regular.


7 Sepultura – Arise


Quando ouvi pela primeira vez o Sepultura eu devia ter uns 17 anos. Pirei instantaneamente (sem exageros)! Foi através de um amigo chamado Cléo, que andava comigo e com alguns amigos “roqueiros” da rua onde morei em minha juventude. Na casa dele havia um LP Arise, juntamente com algumas outros discos pertencentes a sua mãe. A capa já me assustou logo de cara. Uma coisa quase que apocalíptica! Quando comecei a ouvir os primeiros acordes de Arise (faixa-título) então, me arrepiei todo. Nunca havia ouvido nada tão pesado e tão tenebroso ao mesmo tempo. Mas acabei ficando viciado pelo álbum, a ponto de eu os mesmo citados amigos termos, na época, encomendado camisas pretas com a capa do citado álbum gravada. Em shows de rock que rolavam na cidade, ou até mesmo em outros eventos, só dava ela.
Pioneiros no movimento surgido em Belo Horizonte no fim dos anos 1980 que divulgava o metal pesado cantado em inglês, juntamente com bandas como Chakal e Sarcofago, o Sepultura foi fundado pelos irmãos Max (vocal e guitarra rítmica) e Igor Cavalera (bateria) e depois consolidado com Andreas Kisser (guitarra solo) e Paulo Jr. (baixo). Foi também uma das bandas brasileiras pioneiras a desbravar terras estrangeiras com o tipo de som que faziam.
Além de Arise, destaca-se pancadas como Dead Embryonic Cells, Desparate Cry, Subtraction e a versão matadora de Orgasmastroin, do Motörhead, uma de suas maiores influências.

henrique magalhães
(todos os direitos reservados)

lembretes

arte: joan miró


numa caixa de sapatos
vazia
e numa taça de vinho
tinto
seco
cabem todas as rugas
que cabem numa alma
que não cabe
em mim

nas capas dos discos
velhos e lacrados
e no velho vinil
nauseado
tocando uma velha canção
de amor
ou tédio
silenciam-se meus gritos
que não cabem
em mim

no quarto de dormir
e amar
insípido
e no velho livro
de poesia
amor
ou auto-ajuda
moram vários em um
ou um
em vários
nenhum deles (in)existem
co-existem
mas não cabem
em mim

henrique magalhães
(todos os direitos reservados)



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Maria Teclado e o sexo na Flip, por Xico Sá

Eis mais um "testículo" extraído da coluna do Xico Sá, figura "cosmofílica, catafólica, esquizofrênica", ou seja mais lá o que for.
Em um país de livros caros, homens baratos e pseudo-intelectuais (para não falar em "jumentos" mesmo, com todo respeito ao animal-símbolo da força e da bravura do homem campestre), as ditas  "Marias-teclados" podem consistir em um símbolo desse falso intectualismo imperante em terra brasuca. Ou não, elas apenas se sentem atraídos por caras cults (seja lá que diabos for isso), que curtem literatura e escrevem.
De qualquer maneira, é um texto interessante, provocador, divertido. E por que não dizer reflexivo? Boa leitura, e que venham as Marias-teclados!

A argentina Pola Oloixarac fez a festa dos "Zé-teclados" na Flip 2011 

Ao contrário dos festivais de música, teatro e cinema, as farras literárias, como a Flip, costumam ser mais conservadoras em matéria -sejamos diretos, sem metáforas -de sexo.
A literatura ainda guarda uma certa solenidade. Basta ver a quantidade de fotos de escritores com mão no queixo.
Mas nada que uma Maria Teclado não possa mudar o cenário careta. Um país se faz com livros e Marias Teclados. Elas salvam a Flip.
Assim como a Maria Chuteira se derrama de amores pelos jogadores e a Maria Gasolina aprecia os felizes portadores de carrões, a Maria Teclado vem a ser uma íntegra e romântica gazela que ama os escritores e os seus volumes, suas obras completas, capa mole ou capa dura.
Num país que pouco se lê, tem coisa mais bonita?
A MT é uma criatura generosa e pratica, nas baladas literárias, Flips, bienais etc, o sagrado e bíblico direito da conjunção carnal, abandonando o mítico posto de musa.
Para um escritor ainda não muito flipável ou conhecido, a maldição literária é a melhor isca para levar uma Maria Teclado à alcova. Vale por uma estante de prêmios jabutis.
Os marginais sabem, como no mantra do Eduardo Cac, um dos nossos representantes da geração 70, que “para curar um amor platônico somente uma trepada homérica.”
Não carece, porém, repito, preocupação alguma com vosso gênero ou estilo. Pasme, até os cronistas, velhos praticantes deste gênero que é o caldo-de-cana com pastel de feira da literatura, têm direito a amantes talhadas para o tecladismo.
A Maria Teclado possui um caráter inoxidável. É raro uma MT que ama um ficcionista cair de amores, mesmo com a crueldade outonal do calendário, por um milionário mago da autoajuda.
Somente sob efeito de tonéis de Maria Izabel, a cachaça oficial da Flip, uma MT pode embaralhar os gêneros, os estilos e as vocações, fazendo da taberna literária um saloon do velho Oeste. Os civilizados ficcionitas também vão às vias de fato.
O normal, porém, é a fidelidade, ao contrário do que ocorre com as Marias Chuteiras e Gasolinas. Estas carecem de status e não curtem ostracismo.
Ter uma MT é um luxo sob qualquer ângulo. Para começar, ela é antes de tudo uma leitora. Voraz ou não, estuda o seu alvo, nunca larga um livro antes da vigésima página -se bem que existem MTs que sabem dar o truque tanto quanto os resenhistas de plantão dos nossos jornais. Haja leitura dinâmica.
No geral, ressalte-se, a Maria Teclado é uma mulher séria, honesta, lida mesmo, capaz de dizer no ouvido do mancebo parágrafos inteiros dos seus livros obscuros. Inclusive daquela primeira publicação que o autor renega e abomina. Nestas ocasiões é broxada na certa, deixa quieto, não era esta a intenção da mademoiselle.
Como não se trata de uma interesseira, está mais para uma admiradora, uma MT pode dar em uma ótima e legítima esposa. Isso não significa que sejam umas Amélias. É atividade que abraça por vocação, zelo e gosto.
Não há limites para as qualidades de MT. Muitas vezes também escrevem, na moita, revelando aos poucos os seus papiros. Muitas superam os seus maridos, como a Simone de Beauvoir, que começou como MT e fez-se uma escritora mais palatável do que o bofe existencialista.
Sim, os Zés Teclados também já se encontram em Paraty. Bom proveito a todos.

Xico Sá
Colunista da Folha de São Paulo

Extraído de http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2012/07/05/maria-teclado-e-o-sexo-na-flip/

domingo, 1 de julho de 2012

à minha avó

arte: di cavalcanti


eu, infante
contava estrelas
cintilantes
no negro céu
pálido
ao sabor de araçás
recém-caídos
sob o árido solo
de minha imaginação
infante

infante, eu
sob o fervilhar incandescente
da velha chaleira
observava borbulhas
do café negro
e o coração a flutuar
junto às pipas
e o gritar de mancebos
como eu
na rua

minha avó
que passava roupas
enquanto apitava
o velho bule
sussurrava docemente
sobre minhas orelhas
frias:
"filho, é melhor sonhar
continue
sonhando"

henrique magalhães
(todos os direitos reservados)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

parnaso

às meninas, Golda e Dulce



Arte: Isa de Oliveira

"Sou feminina, menina, mulher, a vida me ensina, a vida me é sina, sou fêmea, sou fama, sou filha, sou drama, da vida, oficina, sou tudo que rima, sou quem desatina, sou sina maior."
(autor desconhecido)


salve
os poetas...

esses seres
insuportavelmente
caóticos

e belos

... prefiro, porém
as poetisas.

henrique magalhães
(todos os direitos reservados)

terça-feira, 5 de junho de 2012

procissão (ou jesus no xadrez), por cordel do fogo encantado

O Cordel do Fogo Encantado foi, sem dúvida alguma, um dos grupos mais representativos da nova geração da chamada "música de raíz" do nordeste.
Oriundo da cidade de Arco Verde, portal do sertão pernambucano (terra de meu pai e quase vizinha de minha querida terra natal, Salgueiro), o grupo misturava música, teatro e recitais de cordéis e poesias de legítimos representantes da cultura sertaneja nordestina, como Zé da Luz e Chico Pedrosa. Aliás, é desse último a poesia interpretada pelo grupo no vídeo abaixo. Uma belíssima interpretação de uma obra-prima da cultura popular do nordeste brasileiro.
O Cordel do Fogo Encantado encerrou suas atividades há dois anos, ou pelo menos entrou em recesso por tempo indeterminado, para que seus integrantes se dedicassem a projetos pessoais. Quanto ao grande poeta paraibano Chico Pedrosa, fica a dica.
Apreciem sem moderação!



No tempo em que as estradas eram poucas no sertão
Tangerinos e boiadas cruzavam a região entre volante e cangaço
Quando a lei era do braço do jagunço pau mandando do coronel invasor
Dava-se no interior esse caso inusitado
Quando o palmera das antas pertencia ao capitão Justino Bento da Cruz
Nunca faltou diversão vaquejada, canturia, procissão e romaria
sexta-feira da Paixão
Na quinta-feira maior Dona Maria das Dores no salão paroquial
Reunia os moradores depois de uma pré-eleção ao lado do capitão
Escalava a seleção de atriz e atores
Todo ano era um Jesus, um Caífaz e um Pilatos
Só nao mudavam a cruz, o verdúguio e os mal-tratos
O Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor
Caífaz foi Cipriano
Pilatos foi Nicanor
Duas cordas paralelas separava a multidão
Pra que pudessem entre elas caminhar a procissão
Quincas conduzindo a cruz
Foi e num foi advertia, um cinturião pervesso que com força le batia
Era pra bater maneiro, Bastião não entendia
Devido um grande pifão que tomou naquele dia do vinho que o capelão guardava na sacristia
Cristo dizia: "ô rapaz, ve se bate devagar, já to todo encalombado assim não vou aguentar,
ta com a gota pra duer, ou tu para de bater ou a gente vai brigar jogo ja essa cruz fora, to ficando aperriado, vou morrer antes da hora de ficar crucificado"
O pior é q o malvado fingia que não ouvia e além de bater com força ainda se divertia, espiava pra jesus, fazia pouco e dizia:
"que Cristo froxo é você que chora na procissão? Jesus pelo que se sabe num era mole assim não eu to batendo com pena, tu vai ver o que é bom, na subida da ladeira da venda de fenelon o couro vai ser dobrado
até chegar no mercado da cuica mudotor"
Naquele momento ouviu-se um grito na multidao era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão e partiu feito um maluco pra cima de Bastião
Se travaram num tabefe, pontapé e cabeçada
Madalena levou queda
Pilatos levou pancada
Deram um cacete em Caífaz que até hoje não faz nem sente gosto de nada
Dismancharam a procissão o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado
Acertaram um cocorote na careca de Timotéo que inté hoje é aluado
Inté mesmo São José que não é de confusão, na ansia de defender o seu filho de criação aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa na cara do bom ladrão
A briga só terminou quando o doutor delegado interviu e separou cada santo pro seu lado
Desda que o mundo se fez, foi essa a primeira vez que Jesus foi pro xadrez mas não foi crucificado.


Chico Pedrosa

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Chifre: Modo de Usar, por Xico Sá

Descobri esse texto, interessantíssimo, futucando um dos blogs o qual eu costumo seguir com uma relativa regularidade, assinado pelo jornalista e cronista cearense Xico Sá (http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/).
Trata-se de uma reflexão bem-humorada e sem "frescuras" sobre uma das questões mais discutidas e também mais témidas (principalmente por nós, "homens com H"): o chifre.
Enfim: quem nunca levou (ou pelo menos não sabe que já levou)?
A todos e a todas, uma inquietante leitura!



Como assim corno de si mesmo?
É possível?
Como aprendi, entre outras tantas lições, com o meu conterrâneo Miguel Arraes: “Meu filho, tudo é possível no mundo dos possíveis”. Era uma coletiva no Palácio do Campo das Princesas. Jovem repórter, havia feito uma pergunta imbecil qualquer.

É possível ser corno de si mesmo? Sim. Está ai o Marques de Sade, um dos padrinhos sentimentais deste blog, que não nos deixa mentir.

Cuidado. É mais possível do que o amigo e a amiga imaginam.
Digamos que você vá a uma baile de máscaras. E lá esteja, sem que o saiba, seu marido ou a sua mulher. Você transa sem saber que é ele(a).

Eis a pista. Mais eu não conto para não estragar de tudo a leitura deste conto genial. Havia sido lançado pela Hedra, agora volta em uma edição para lá de econômica, apenas cinco mangos, na coleção de banca da L&PM.
Coleçãozinha excelente da editora de Porto Alegre. São livros de até 64 páginas, contos ou pequenos ensaios. Ideais para ler no metrô, em uma ponte aérea, no consultório.

Bela iniciativa no país dos livros caros e dos homens baratos.
“O corno de si mesmo” é da série de textos que o nobre Marquês escreveu quando estava preso na Bastilha, por volta de 1787, na França.

De si mesmo ou de outrem, amigo, algum dia faltamente seremos. Por isso o valor dessa literatura para refletir e coçar a testa. Eu recomendo.
Não há nada demais nisso. Seja você manso, complacente, quase um voyeur do chifre, como muitos personagens de Sade. Seja você um corno bravo, destemido, do tipo que sai a fazer besteiras. Inúteis besteiras. Chifre posto, nada mais nessa vida o subtrai.

Sim, caro Marçal Aquino, o amor e outros objetos pontiagudos. Acontece nas melhores famílias da Inglaterra ou do Crato.
Só um chifre, aliás, humaniza um macho. Só um chifre tira a nossa arrogância falocrática.

E já que falamos de filosofia de pára-choque, fica aqui um clássico: chifre é para homem, boi usa de enxerido.
Relaxa.


Xico Sá
(Jornalista, colunista da Folha de São Paulo)

sábado, 26 de maio de 2012

um pequeno aperitivo de marc chagall

A obra de Marc Chagall é um verdadeiro mosaico temático de tendências artísticas variadas. Eclético por natureza, o artista plástico bielorrusso flertou com as mais variadas escolas de arte da sua época, como o surrealismo, o expressionismo e o cubismo. Teve uma vida intensa de exílios, amores e muita arte, tendo "desencarnado" ainda jovem, aos 98 anos de idade, em plena produtividade artística.
Abaixo, alguns pequenos aperitivos da arte desse gênio, e uma breve biografia de sua vida e obra.
A todos e todas, um bom deleite!

adam and eve expelled from paradise

chloe carried off by the methymnaens

circus horse rider

i and the village

la caduta di icaro

paradise

the enamoured

the poet with the birds

the sabbath

Nascido Mojša Zacharavič Šahałaŭ' (em bielorrusso Мойша Захаравіч Шагалаў; em russo Мовшa Хацкелевич Шагалов), quando entrou para o ateliê de um retratista famoso da sua cidade natal. Lá aprendeu não só as técnicas de pintura, como a gostar e a exprimir a arte. Ingressou, posteriormente, na Academia de Arte de São Petersburgo, de onde rumou para a próspera cidade-luz, Paris.
Ali entrou em contacto com as vanguardas modernistas que enchiam de cor, alegria e vivacidade a capital francesa. Conheceu também artistas como Amedeo Modigliani e La Fresnay. Todavia, quem mais o marcou, deste próspero e pródigo período, foi o modernista Guillaume Apollinaire, de quem se tornou grande amigo.
É também neste período que Chagall pinta dois dos seus mais conhecidos quadros: Eu e a aldeia e O Soldado bebé, pintados em 1911 e em 1912, respectivamente.
Os títulos dos quadros foram dados por Blaise Cendrars. Coube a Guillaume Apollinaire selecionar as obras que seriam posteriormente expostas em Berlim, no ano em que a 1º Grande Guerra rebentou, em 1914.
Neste ano, após a explosão da guerra, Marc Chagall volta ao seu país natal, sendo, portanto, mobilizado para as trincheiras. Todavia, permaneceu em São Petersburgo, onde casou um ano mais tarde com Bella, uma moça que conheceu na sua aldeia.
Depois da grande revolução socialista na Rússia, que pôs fim ao regime autoritário czarista, foi nomeado comissário para as belas-artes, tendo inaugurado uma escola de arte, aberta a quaisquer tendências modernistas. Foi neste período que entrou em confronto com Kasimir Malevich, acabando por se demitir do cargo.
Retornou então, a Paris, onde iniciou mais um pródigo período de produção artística, tendo mesmo ilustrado uma Bíblia. Em 1927, ilustrou também as Fábulas de La Fontaine, tendo feito cem gravuras, somente publicadas em 1952. São também deste ano conhecidas, as suas primeiras paisagens.
Visitou, em 1931, a Palestina e, depois, a Síria, tendo publicado, em memória destas duas viagens o livro de carácter autobiográfico Ma vie (em português: "Minha vida").
Desde o ano de 1935, com a perseguição dos judeus e com a Alemanha prestes a entrar em mais uma guerra, Chagall começa a retratar as tensões e depressões sociais e religiosas que sentia na pele, já que também era judeu convicto.
Anos mais tarde, parte para os Estados Unidos da América, onde se refugia dos alemães. Lá, em 1944, com o fim da guerra a emergir, Bella, a sua mulher, falece, facto que lhe causa uma enorme depressão, mergulhando novamente no mundo das evocações, dos chamamentos, dos sonhos. Conclui este período com um quadro que já havia iniciado em 1931:Em torno dela.
Dois anos depois do fim da guerra, regressa definitivamente à França, onde pintou os vitrais da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Na França e nos Estados Unidos da América pintou, para além de diversos quadros, vitrais e mosaicos. Explorou também os campos da cerâmica, tema pelo qual teve especial interesse.
Em sua homenagem, em 1973, foi inaugurado o Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall, na famosa cidade do sul da França, Nice. Em 1977 o governo francês condecorou-o com a Grã-cruz da Legião de Honra.
Tendo sido um dos melhores pintores do século XX, Marc Chagall faleceu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em 1985.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

um pequeno aperitivo de waly salomão

Eis um pequeno aperitivo para quem não conhece ou pouco conhece a vida e a obra desse grande poeta baiano. Vale a pena!!

waly salomão. foto: wilson midlej

Fábrica do Poema
In memoriam Donna Lina Bo Bardi
sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.
sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?
(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra "recalcado" é uma expressão
por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema)
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará?

Devenir, devir
Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.
Também não pode ser
a pacatez burguesa do
ponto seguimento.
Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.
Morro e transformo-me.
Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém
Morre e transforma-te.

Waly Dias Salomão
(Jequié, 3 de setembro de 1943 Rio de Janeiro, 5 de maio de 2003)

 O poeta, letrista, ator e produtor cultural brasileiro nascido em Jequié, Estado da Bahia, participou do movimento cultural Tropicália, na década de 60, que misturou temas e palavras americanas aos utilizados pela popular Bossa Nova, mas não se considerava do grupo. Filho de pai sírio e mãe baiana, desde cedo mostrou-se voltado para a intelectualidade.
Lançou seu primeiro livro de poemas, Me Segura que eu Vou Dar um Troço (1971), uma obra com textos escritos durante uma temporada passada na prisão, paginados e diagramados pelo artista plástico e seu amigo Hélio Oiticica (1937-1980). Neste ano também dirigiu o clássico show Fa-tal (1971), marco na carreira de Gal Costa. Co-autor de músicas como Mel e Talismã, ambas em parceria com Caetano e que viraram título dos discos de Maria Bethânia (1979 /1980), respectivamente, Anjo Exterminado e Mal Secreto, com Jards Macalé, Assaltaram a Gramática, com Lulu Santos e sucesso com os Paralamas do Sucesso, Balada de um Vagabundo, com Roberto Frejat, Pista de Dança, com Adriana Calcanhotto, e Vapor Barato, com Jards Macalé, entre outros.
Entre seus livros de sucesso figuraram Gigolô de Bibelôs, Surrupiador de Souvenirs, Algaravias, Lábia e Tarifa de Embarque (2000), entre outros. Participou do filme Gregório de Mattos (2002), da cineasta Ana Carolina, onde vivia o poeta luso-baiano ao lado de Marília Gabriela e Ruth Escobar. Casado e pai de dois filhos, o poeta da Tropicália ficou internado por doze dias na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio, para fazer tratamento de um câncer no intestino e morreu aos 59 anos. A causa mortis oficial foi a falência múltipla de órgãos, depois que a doença causou metástase para o fígado. Após o velório no Cemitério São João Batista, o corpo do poeta e letrista foi cremado no Cemitério do Caju, na zona norte do Rio de Janeiro. Era secretário Nacional do Livro do Ministério da Cultura, nomeado pelo Ministro Gilberto Gil, e responsável pela divulgação do livro
e da leitura.
Em 1997, ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura com o livro de poesia Algaravias. Seu último livro foi Pescados Vivos, publicado em 2004, após sua morte.

Fonte: www.rosanycosta.com.br